top of page

A Psicologia e a Gravidez

Foto do escritor: Luana VianaLuana Viana

Muita gente vê a gravidez como um período de alegria e plenitude, no qual o casal planejou tudo e tem o preparo necessário para cuidar da criança que está a caminho. Pra muita gente não é bem isso que acontece. Em muitas culturas, existe uma ideia bem difundida: a de que mulheres só irão se sentir totalmente realizada depois de ter um filho. Podemos chamar essa ideia de norma da maternidade e sua difusão já foi constatada em vários lugares do mundo. Na Australia, por exemplo, é comum a crença de que a maternidade é uma parte essencial que significa ser mulher. Tanto nos EUA quanto no México, para muitos é como se ter um filho completasse a existência de uma mulher; enquanto que na Índia a maternidade é dita como natural e esperada. Esse tipo de ideia é ensinado e estimulado desde bem cedo as meninas que vivem nesse tipo de cultura através dos próprios pais e de todas as outras fontes de influencias culturais. Não a toa, muitos veem isso como quase um destino ao atingirem a fase adulta. Mulheres que engravidem ou demonstrem interesse em engravidar tendem a estimular reações positivas nos outros. Já mulheres que não demonstram esse interesse podem ser vistas como frias, egoístas ou infelizes. Mas será que mulheres que engravidam realmente se tornam mais felizes do que as que optam por não ter filhos? De acordo com um estudo divulgado recentemente, a resposta é que não, indicando que a norma da maternidade pode ser uma promessa meio exagerada. Quando os dados de 89 países foram analisados, incluindo aí o Brasil, contatou-se que os níveis de felicidades de mães não diferem muito relatados por mulheres que não tiveram filhos. Isso faz sentido pois ter um filho pode trazer tantas consequências positivas8 quantos negativas também, embora geralmente as pessoas se foquem muito mais nas consequências positivas ao falar sobre esse assunto. A maternidade pode fortalecer o propósito de vida da mãe e permitir a vivencia de diversas experiencias positivas durante a criação do filho. Mas a chegada de um bebe fofinho, pode vir também acompanhada de dificuldade financeiras, conjugais, sociais, psicológicas e de grandes restrições ligadas ao lazer. A norma da maternidade tambem desconsidera várias outras coisas que acontecem com o corpo e a mente de uma mulher assim que ela inicia a gravidez e que são capazes de fazer o sonho da maternidade parecer mais com um pesadelo para algumas mulheres. Uma das mudanças mais marcantes, é que, em nenhum outro momento da vida, incluindo aí a puberdade e a menopausa, uma mulher vivencia variações hormonais tão extremas de maneira natural quanto durante a gravidez. Os níveis de progesterona, estrogênios, prolactina, gonadotrofina, coriônica humana e outros hormônios se elevam para permitir, o desenvolvimento do feto e preparar o corpo da mulher para a gestação, a amamentação e o parto. Algumas mulheres podem desenvolver condições medicas, tais como diabete gestacional, algum distúrbio da tireoide, a anemia, a infecção urinaria, a hipertensão, a trombose, a constipação intestinal ou as hemorroidas por conta dessas alterações e de predisposição que tinha. Viver esse tipo de problema é mais comum do que muitos pensam, porem o foco quando se fala em gravidez costuma ser na parte mais positiva dela. Um aspecto psicológico famoso sobre a gravidez são os desejos por certos tipos de comidas que algumas mulheres sentem. Embora esses desejos, sejam relatados por mulheres de diferentes culturas, sabemos que eles são menos frequentes em alguns lugares do que em outros e que o tipo de comida desejada pode variar consideravelmente a depender da cultura. Em alguns lugares, comidas mais gordurosas podem ser as preferidas, tais como sorvete ou chocolate. Já em lugares como no Japão, a comida preferida pode ser um famigerado arroz. Uma explicação comum sobre isso é que o desejo por uma comida visaria atende uma demanda nutricional especificamente ligada à gravidez. Pesquisas avaliando a composição nutricional de comidas comumente desejadas apoiaram a conclusão de que várias delas não são boas fontes de nutrientes importantes para a gestação. Tanto é que, dentre as mulheres que vivenciam esses desejos, é comum que elas ganhem muito mais peso do que seria o ideal para sua saúde durante a gestação. Muitas mães buscam alimentação mais saudável durante o início da gravidez, reduzindo a quantidade de calorias que consomem e evitando alimentos menos saudáveis. Isso pode aumentar as chances de elas vivenciarem episódio de compulsão através dos desejos de comida. Talvez então esses desejos sejam motivados por razoes mais psicológicas e culturais do que puramente biológica. Em muitos países, comidas muito gostosas, porém menos saudáveis, tais como sorvete, pode estimular o sentimento de culpa ao serem consumidas. Durantes alguns momentos, tais como TPM e a gestação, consumir alimento de forma excessiva ou que são poucos saudáveis tende a ser mais socialmente aceitos, então o período de gravidez pode incentivar algumas mulheres a sentirem menos culpa por se alimentar de forma livre. Um fator psicológico que tambem pode nos ajudar a entender esse comportamento é a percepção de suporte social. Quando a mulher pede para seu parceiro ou parceira ir comprar sorvete, feijão, tamarindo, xarope de groselha as 2 das manhãs ela precisa contar com o apoio dessa pessoa. É claro que essa mistura exótica de comidas pode ter um valor intrinsicamente valioso para a mulher, mas junto com essa comilança é recompensador sentir que tem alguém com quem pode contar e que cuidara de você caso precise de ajuda. Ainda sabemos pouco sobre todas as mudanças cerebrais que ocorrem durante a gravidez de uma mulher de uma forma direta, mas certamente elas ocorrem. Já é bem documentado que ocorrem tanto mudanças no funcionamento quanto na estrutura do cérebro durante a puberdade e menopausa. Ambos são período de turbulência hormonal, mas a gravidez é a campeã nesse quesito e por isso traz maiores danos cerebrais. Logo depois do parto, mulheres tendem a apresentar um aumento de massa cinzenta em regiões do cérebro ligado a comportamento maternos. Quanto maior esse aumento, maior tende a ser o sentimento positivo em relação ao filho. Cerca de 80% das mulheres vivenciam dificuldades cognitivas durante a gravidez, sendo aquelas ligadas a memória uma das mais comuns. De acordo com uma meta-analise, por exemplo, mulheres gravidas tendem a exibir déficits nas capacidades de recuperar memorias e de manter informações de forma temporária na mente para usá-las. Tambem ocorre alterações no funcionamento do eixo HPA, um dos principais reguladores no cérebro do cortisol e das nossas reações a situações estressantes. No nível psicológico, essa mudança cerebral se traduz em uma diminuição geral de reatividade ao estresse, o que ajudaria a proteger tanto a futura mamãe quanto o feto dos possíveis efeitos danosos do estresse. Experimentar o estresse durante a gravidez, especialmente no começo, aumenta as chances de ocorrer um parto prematuro e do bebe ter um peso menor do que esperado quando nascer. Outro fator que aumenta a chance de um parto prematuro ocorrer é a ansiedade da gravidez. Ela envolve receio excessivo sobre a saúde do bebe, o parto, os cuidados ligados a própria saúde e como ela se saíra como mãe depois que o bebe nascer. Alguns desses receios, estão ligadas as expectativas sociais a respeito das mães e quanto mais uma mulher acredita e se baseia em uma visão idealizada da maternidade, pior tende a ser o bem estar durante e depois da gestação. Daí vem a importância de falarmos mais amplamente sobre todos os aspectos envolvidos na gravidez e não só da parte mais agradável. A ideia não é desencorajar a ninguém a engravidar, mas sim disponibilizar informação mais completa para que as mulheres tomem as decisões que preferirem. Muitas mulheres não contam com o suporte de familiares, parceiros românticos, amigos ou profissionais da saúde da maneira que seria ideal. Isso pode gerar diferentes consequências negativas, tais como uma maior chance de desenvolver depressão, ansiedade da gravidez e vivencias do estresse, por exemplo. Elas tambem tem uma chance menor de adotarem um estilo de vida saudável, tal como uma rotina envolvendo alimentação equilibrada, atividades físicas, qualidade do sono e outros cuidados com a própria saúde. Isso, por sua vez, aumenta as chances de complicações para a própria mãe e o feto. Mulheres vivem a gravidez de várias formas diferentes e uma grande parte desse processo está longe de ser pura alegria. Fala-se pouco sobre o lado menos divertido da gravidez, mas ele faz tanto parte do processo quanto todo o resto. Refletir sobre o que te motiva a querer ter um filho pode ser muito útil, tanto para perceber o quanto você foi direcionada pela sociedade a querer isso quanto para tomar uma decisão que faça sentindo para você e que não se baseie em uma visão incompleta de tudo que está envolvido nessa decisão.

2 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Commenti


Post: Blog2_Post

A tal da Psicologia!

Formulário de inscrição

Obrigado(a)!

  • Facebook
  • LinkedIn
  • Instagram

©2022 por Luana Andrada Viana. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page