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Talvez você acredite que nada do que faz é bom o suficiente. Mesmo quando você se sai bem em uma prova, desenha super bem, canta super bem ou tem algum outro talento admirado por outra pessoa, nada disso te convence de que você é realmente bom naquele quesito. Bons são os outros você é apenas esforçado ou sortudo.
Alguma insegurança desse tipo todo mundo pode sentir eventualmente, mas essa forma mais intensa e frequente de dúvida sobre si mesmo é uma experiencia que muitos vivem, mas nem todos falam abertamente sobre isso. Talvez você já tenha falado por aí de uma tal de “Síndrome do Impostor.”.
Essa síndrome não é reconhecida internacionalmente como um diagnostico oficial, tais como a Síndrome de Burnout e Síndrome de Down. Por isso vamos nos dirigir como se fala na psicologia Fenômeno do Impostor. Você viveu isso se já teve a forte sensação de que não merecia as conquistas que já alcançou. Ou os reconhecimentos que recebeu, mesmo que houvessem evidencias concretas de que mereceu. Esse fenômeno pode afetar alguém que é habilidoso ou bem sucedido em algum quesito, mas que mesmo assim sente alguma dificuldade em reconhecer seu mérito ou aceitar que seu mérito decorre da sua competência.
Diante de um evento que ilustre a sua habilidade em algum quesito, como tirar uma nota muito boa em uma prova, a pessoa pode quase automaticamente atribuir o seu bom desempenho a sorte, ao seu grande esforço ou ao seu professor ser muito gente boa. Tudo merece credito, menos a sua competência. Também costuma haver um grande receio de que os outros irão perceber que você é uma fraude ou que não é tão competente assim, mesmo que, na verdade, você seja bem capacitado naquele quesito.
Por que será que várias pessoas duvidam tanto de si mesmas quando, na pratica, isso não faz tanto sentido. O modo como os pais ou cuidadores interagem com a criança pode estimular uma tendencia ao fenômeno do impostor desde cedo. Dentre os fatores que já foram identificados em pesquisas, um deles é a falta de consistência no feedback positivo em decorrência de conquistas.
Na pratica isso significa que os pais ou os cuidadores nem sempre recompensam a criança de forma clara e consistente pelo seu sucesso. Enquanto alguns pais voltam e meia podem reagir com indiferença as coisas que a criança conquistou, outros podem reclamar ou cobrar da criança um desempenho melhor ainda. Suponha que Miguel ganhou uma medalha de ouro na competição de futebol da sua escola. Ele chega em casa todo empolgado para mostrar aos pais a medalha, mas eles não deram nenhuma moral para ele. O que ele deveria concluir a partir disso? Talvez que essa conquista não foi tão importante ou impressionante assim. Se o pai fala algo como “você devia ter feito mais gols”, Miguel pode concluir que ganhar a competição não foi bom o suficiente e isso pode desanima-lo.
Se a criança é recompensada as vezes pelo sucesso, mas muitas outras vezes, não, pode ser difícil para ela relacionar o bom desempenho com bons sentimentos ou pelo menos isso pode ser algo confuso na sua cabeça. Se os pais deles forem muito exigentes, Miguel, também pode concluir que precisa se esforçar muito para ter um desempenho perfeito já que, do contrário, as chances de ele conseguir a admiração e o reconhecimento dos pais serão mais baixas. Pode parecer que nada do que ele faz é bom o suficiente.
Mais ampla ainda do que a influência dos pais ou dos cuidadores é da cultura. Em culturas como a nossa, é comum que haja uma grande pressão para que as pessoas sejam bem sucedidas, conquistem coisas que são valorizadas pela sociedade e se destaquem dos outros.
O seu “sucesso” pode ser medido em termos de ter um bom trabalho, uma graduação em uma instituição de ensino renomada, independência financeira, uma casa, um carro dentre outros bens materiais. Essa influência cultural pode te atingir desde cedo pelo modo que como você é tratado pelos seus pais, parentes, professores ou qualquer outra pessoa com quem você conviva. Ela pode te ensinar a ser mais habilidoso, dedicado ou bem-sucedido até mesmo sem que percebam. A cultura também te alcança por meio do conteúdo presente em coisas como a mídia, a internet, os filmes, os livros, os jogos, as músicas e outros produtos culturais aos quais você foi exposto. Por esses meios, você pode ir aprendendo a admirar pessoas bem sucedidas e a concluir que você também deveria ser uma pessoa muito bem sucedida e se destacar dos outros.
O fenômeno do impostor é especialmente comum em alguns grupos de pessoas, tais como estudantes universitários, professores, gerentes ou membros de grupos estigmatizados ou minoritários. Qualquer pessoa pode sentir isso, mas contextos mais competitivos, exigentes, ligados a atividades intelectuais ou que estimulam uma ameaça a identidade favorecem o fenômeno. Mulheres em cursos de exatas, por exemplo, podem sentir essa ameaça e duvidarem das suas competências com frequência por estarem em uma área onde homens são predominantes. É comum que estudantes de pós-graduação sintam inseguranças sobre suas competências também. Isso pode ser estimulado por diversos fatores como disciplinas com conteúdo avançados, a constante exposição a avaliação negativa, ou tarefas com alto nível de complexidade. Ao se deparar com novo desafio ou tarefa, pessoas que se sentem impostoras costumam a recorrer a uma de duas estratégias para enfrentar o seu medo de falhar: o perfeccionismo ou a procrastinação.
Para compensar o seu receio em fracassar, alguém poderia se preparar de forma extremamente meticulosa e se esforçar excessivamente para ter um desempenho impecável, mesmo que isso a deixe muito estressada e exausta. Uma pessoa assim poderia passar várias horas se preparando, revisando mil vezes o trabalho que precisa entregar ou adotando muito mais comportamento de checagem do que seria necessário para garantir um bom controle de qualidade. Já ao procrastinar a pessoa está seguindo aquela filosofia presente em figurinhas do WhatsApp de que “só dará errado se você tentar”. Quem faz isso pode enrolar para terminar o que precisa fazer até o ponto em que se torna humanamente impossível ela ter um desempenho excelente na tarefa. A “pseudovantagem” dessa estratégia é que assim a pessoa consegue proteger parcialmente a sua visão já tão frágil de si mesmo, já que pode justificar o desempenho ruim com base na falta de tempo para fazer algo bom em vez de precisar reconhecer alguma falta de habilidade.
Quem se vê como um impostor costuma sentir menos bem-estar e prazer pelas conquistas que alcança. Outras possíveis consequências são níveis mais elevados de ansiedade, estresse, sintoma depressivos e instabilidade emocional. Essas pessoas também exibem com frequência, baixa autoestima, o perfeccionismo e, ironicamente um pior desempenho em diferentes tarefas em comparação com quem não tem essa dificuldade.
Mas um estudo de 2017 demonstrou que existem pelo menos duas manifestações do fenômeno do impostor: uma que se pode chamar de impostor real e outra que é impostor estratégico. O Real tem uma auto estima negativo e pode sofrer alguns dos prejuízos já citados, enquanto o estratégico não.
O impostor Estratégico não internaliza duvidas crônicas sobre si mesmo como o impostor Real. Ele pode diminuir a importância dos seus feitos ou se colocar como menos capaz para os outros como uma estratégia de auto apresentação, mesmo que essa não seja sua verdadeira autopercepção. Se você parar para pensar, pode haver vantagens em se apresentar de forma não tão positiva para os outros. Eles podem ver isso como um sinal de que você é alguém modesto, humilde ou cuidadoso e todos esses traços são muito desejados. Além de que gerar expectativas baixa nos outros e os surpreender tendo um bom desempenho, isso pode passar uma impressão mais positiva do que se tivesse gerado expectativas altas desde o começo.
Dicas do que pode fazer casos se tiver sofrendo com o fenômeno do impostor:
1. Converse abertamente sobre suas inseguranças com pessoas do seu contexto e em quem confia. Se você é estudante de graduação por exemplo, converse com um colega ou com aquele professor que já te deu boas orientações. O sentimento de impostor é comum na academia e conversar com outras pessoas desse contexto sobre esse sentimento pode te ajudar a perceber que você não é o único sofrendo com isso. Recebendo esse tipo de suporte você pode começar a aceitar melhor esses sentimentos e a reconhecer como eles são irracionais e improdutivos.
2. Exercite a capacidade de executar racionalmente o seu mérito. Um exercício que pode ser feito regularmente é anotar em uma folha de papel alguma conquista sua e tentar descrever quais fatores contribuíram para essa conquista. Sugira qual a contribuição de cada fator em termos de porcentagens. Depois tente analisar o quanto essas porcentagens são realmente precisa. Você pode até pedir ajuda de alguém em confia e que viu de perto como essa conquista foi alcançada para avaliar sua porcentagem. Se você vivencia o fenômeno do impostor, provavelmente irá subestimar a sua contribuição para essa conquista.
3. Faça psicoterapia, mudar certas coisas que você carrega desde a infância ou que te deixam constrangido pode ser bem difícil. Até mesmo seguir as dicas acima pode ser desafiador, desagradável ou improdutivo. Algumas pessoas já veem com tanta naturalidade essas inseguranças sobre as próprias capacidades que nem as entende como um problema, por mais que estejam gerando dificuldade na sua vida ou nem consegue imaginar como seria viver de forma mais harmoniosa consigo mesmas, sendo que isso é totalmente possível.
Embora o sucesso pode ser sinônimo de felicidade para muita gente, isso não pode ser verdade para quem sente que é um impostor. Essas pessoas podem ver o sucesso como mais fortemente ligado a sentimentos de ansiedade, medo e estresse. Isso pode dificultar que elas desfrutem das suas conquistas como a maioria das pessoas. Cometer erros ou falhar em algo não te torna um impostor de verdade. As pessoas mais competentes em qualquer área vão vacilar ao longo da vida. ninguém é perfeito, erros não precisam definir quem é você e podem ser uma ótima fonte de autoaprimoramento.
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