Idade mental é um daqueles conceitos que significa uma coisa para os psicólogos e outra coisa no senso comum. Muitos imaginam que elas se referem a maturidade das pessoas, mas, na psicologia a idade mental tem mais a ver com a inteligência.
Esse termo foi usado pela primeira vez por Alfred Binet, em 1905, o criador do primeiro teste de inteligência. Depois de desenvolver esse teste, Binet, o aplicou em muitas crianças de todas as idades e calculou o score médio no teste para cada idade. Analisando esses dados era possível averiguar até que ponto o desempenho de uma criança com uma certa idade era parecido com o desempenho médio de crianças com a mesma idade. Por exemplo, uma criança de 10 anos que tirasse uma pontuação igual a pontuação média de criança de 7 anos teria a idade mental de 7 e estaria 3 anos atrasada no desenvolvimento de sua inteligência.
Ainda que o conceito de idade mental tivesse alguma utilidade na época, o seu uso foi bastante criticado posteriormente. Muitas das pesquisas envolvendo pessoas com deficiência intelectuais no começo do século passado as classificavam de acordo com a idade mental. Infelizmente, algumas dessas pesquisas foram usadas depois para justificar politicas eugenistas, como a de esterilização de pessoas com deficiências intelectuais. Além disso, como várias habilidades ligadas a inteligência vão parando de aumentar depois da adolescência. O uso do conceito de idade mental para se referir a pessoas adultas ou mais velhas não é tão útil para entender seus níveis de inteligência.
Outro problema com esse conceito é que, sem saber o contexto em que está sendo usado, não fica claro que aspecto da inteligência a idade mental representa exatamente. A maioria das pesquisas sobre idade mental envolvem o cálculo dela a partir de medidas gerais de inteligências, mas ela também pode ser calculada para habilidades especificas tais como a velocidade de processamento, o raciocínio espacial ou vocabulário.
Essa falta de especificidade também faz com que o conceito de idade seja mais facilmente mal interpretado. Pessoas com dificuldades intelectuais ainda se prejudicam com essa falta de especificidade. O uso da idade mental para caracterizar as idades intelectuais dessas pessoas pode infantiliza-las, simplificar demais as suas características intelectuais e criar a impressão de que suas habilidades são mais limitadas do que realmente são.
Por esses e por outros motivos, o conceito de idade mental foi caindo em desuso nas últimas décadas. Hoje em dia, ele é usado em contexto muito específicos de pesquisas sobre desenvolvimento da inteligência em crianças e adolescentes. No senso comum, ele também é utilizado, mas com um significado bem diferente.
A maioria dos testes informais de idade mental na internet não tem nada a ver com inteligência. As suas perguntas geralmente tem a ver com personalidade, a maturidade, as preferencias e os comportamentos que os criadores desses testes supõem que estão relacionados com uma certa idade. Por exemplo, algumas questões que são vistos em um desses testes informais foram as seguintes:
Como você se comportariam diante de um impasse com alguém?
Quão frequente você chora?
Quantos filhos a Kim Kardashian tem?
Um dos vários problemas com esses testes é que eles se baseiam em estereótipos e ideias sobre o que é ser mais velho e maduro. Assim, eles acabam reforçando noções simplistas de como as pessoas são ou deveriam ser em determinadas idades. Outro problema é que testes informais não passam pelos protocolos científicos de desenvolvimento de testes psicológicos, ficando totalmente em aberto se eles realmente medem o que se propõem a medir e o quão bem fazem isso. Por isso, o resultado de um teste informal sobre idade mental pode não te dar uma informação muito confiável sobre você, mesmo que as perguntas pareçam boas ou minimamente relacionada com o tema. Na maioria dos casos esses testes informais de internet servem no máximo como fonte de entretenimento e podem te estimular a refletir sobre suas características pessoais, mas não vão ser capazes de oferecer muito mais do que isso. Quando alguém fala que uma pessoa adulta muito inferior à sua idade cronológica, isso geralmente quer dizer que essa pessoa não se comporta da maneira que seria esperada para alguém da sua idade ou que ela é imatura. Só que dizer que alguém é um tanto “imaturo” ou “maduro " é um tanto quanto vago e dicotômico. Para entender isso melhor, pense o seguinte: o que alguém precisa fazer para ser visto pelos como imaturo? Basta agir de forma muito impulsiva, agressiva, impaciente, egoísta ou irresponsável para merecer essa fama. Ou seja, a expressão “imaturidade” pode se referir a várias características diferentes na linguagem cotidiana. Um dos fatores por detrás de todas essas características, parece ser a tendencia a não controlar muito bem as emoções e a expressa-la de maneira incoerente com expectativas sociais. Olhando por esse lado, chamar uma pessoa de imatura pode funcionar como uma punição social por ela não ter agido de acordo como alguém esperava. O fato é que ninguém é perfeitamente controlado, racional, ou responsável o tempo todo ou em todas as situações, então, nesse sentido, somos todos “imaturos” em algum nível.
Alguns adultos são mais responsáveis, racionais e controlados do que outros e mesmo alguém extremamente “maduro” pode agir de maneira bem “imatura” em certas situações. Todo mundo tem um ponto fraco e quando alguém acerta em cheio nele, é difícil se comportar como o adulto maduro que a sociedade espera.
O seu ponto fraco talvez seja uma fala preconceituosa, alguém te tratando de uma forma injusta, sentir-se ignorado no WhatsApp ou ouvir aquele comentário da sua mãe que sempre te tirou do sério. Pessoas também podem ser vistas como imaturas simplesmente porque sua personalidade difere algum aspecto das expectativas sociais a respeito de adultos, e não por causa de algum atraso real no seu desenvolvimento psicológico.
Algumas personalidades são mais coerentes com o que se espera de um adulto do que outras, e quem mais sofre com isso é quem diverge dos padrões sociais, como alguém muito brincalhão, por exemplo. Se você se considera imaturo ou ouviu isso de alguém, aqui vão algumas dicas:
1. Especifique o aspecto psicológico por detrás dessa suposta “imaturidade”. Simplesmente falar que você é imaturo fica vago, então pergunte a si mesmo ou a quem te chamou de imaturo o que exatamente você faz que não parece coerente com a sua idade. Talvez o problema seja, que você não faça as coisas que deveria, reage muito mal quando alguém diz não para você. não considera muito bem as consequências de suas ações, ou explode com os outros muito facilmente, por exemplo. Identificando algum aspecto no qual você gostaria de se aprimorar.
2. É listar em uma folha que ações você poderia realizar a partir dessa constatação. Por exemplo, pedir desculpas para quem você ofendeu, pedir conselhos antes de tomar certas decisões ou procurar um profissional da psicologia. O próximo passo seria colocar essas ações em pratica e monitorar o seu progresso. Ações que não tragam bons resultados a curto ou a médio prazo pode ser substituída por novas ideias do que fazer e assim por diante.
Avalie se a acusação de imaturidade que recebeu é válida ou não. Como já foi dito, é comum chamar alguém de imaturo funcione na pratica mais como uma reclamação do que uma constatação como déficits cognitivos. Talvez quem tem chamou de imaturo só não goste de algum aspecto da sua personalidade ou esteja te manipulando, então é bom se certificar de que esse não é o caso. Ficando claro que a afirmação da pessoa faz sentido, a dica número 2 é o caminho.
O conceito de idade mental já teve uma importância maior na psicologia e sempre foi usada para falar do desenvolvimento cognitivo de crianças e de adolescentes. Já no senso comum, esse conceito costuma ser usado para falar de adultos e de uma maneira vaga, avaliativa e estereotipadas. É difícil não se comparar com os outros, especialmente na adolescência, mas na fase adulta também. Embora isso possa ser um exercício valido, talvez você se sinta pressionado a ser alguém que não é. a sociedade quer que você sempre se comporte de uma forma super madura, só que ninguém consegue ser assim o tempo todo. Mais importante do que comparar o seu nível de maturidade com o de outras pessoas da sua idade é refletir sobre como você poderia se tornar uma pessoa melhor do que é hoje.
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