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Transtorno Disfórico Pré-menstrual

Foto do escritor: Luana VianaLuana Viana


O ciclo menstrual é um dos muitos ritmos fisiológicos essenciais para vida, assim como os batimentos cardíacos e o ciclo circadiano. Só que, diferente desses outros ciclos, o ciclo menstrual, e, especialmente a menstruação, ainda é um grande tabu em diversas culturas assim como a nossa.

A menstruação é o sangramento natural que faz parte do ciclo reprodutivo das pessoas que possuem um útero. Todo mês, o útero se prepara para uma possível gestação quando um ovulo se prende ao tecido que reveste o útero, mais conhecido como endométrio. Caso o ovulo não seja fecundado, o endométrio começa a se partir e a ser liberado dando início ao sangramento que chamamos menstruação.

O ciclo menstrual costuma ter 28 dias de duração, podendo variar entre 25 e 34 dias na maioria das vezes. Ele se inicia durante a puberdade, geralmente entre 11 e 14 anos de idade, e ocorre até a menopausa, a qual se inicia em torno dos 51 anos. A menstruação, a qual tende a durar de 3 a 6 dias, marca o início do ciclo menstrual. Assim que ela termina, ocorre outras fases do ciclo menstrual, sendo a primeira delas a folicular.

Nela, há um aumento do hormônio folículo-estimulante e do estrogênio. Isso ajudara a preparar o endométrio para uma possível gestação. O aumento progressivo de estrogênio, estimula a produção do hormônio luteinizante e ele, por sua vez estimulara a liberação de um ovulo. Caso esse ovulo entre em contato com espermatozoides, pode haver a sua fecundação.

A fase lútea, ocorre após a liberação o ovulo e envolve um aumento nos níveis de progesterona e estrogênio que preparam novamente o útero para uma possível gestação. Caso não haja fecundação, os níveis de progesterona e estrogênio vão diminuindo até que o endométrio é eliminado por meio de menstruação.

É nessa etapa que antecede a menstruação que muitas mulheres vivenciam diferentes sintomas fisiológicos e psicológicos. Eles podem incluir cólicas abdominais, dores na lombar, inchaço abdominal, dor no seio, dor de cabeça, fadiga, irritabilidade, desejo por comidas especificas e outros dentre os 150 sintomas conhecidos.

Existem condições medicas e outras variáveis que podem estimular mudanças no ciclo menstrual, como é o caso da endometriose e da síndrome do ovário policístico, por exemplo. Algumas mulheres que são atletas de alta performance não tendem a menstruar devido ao tipo de treino no qual se envolvem. Mulheres em situação de vulnerabilidade econômica, que precisam enfrentar cargas altas de trabalho físico ou que possuem um baixo peso corporal também pode apresentar uma ausência de menstruação. Outros fatores, como estresse e contexto de violência, também podem acarretar em mudanças no ciclo menstrual.

E por falar em contexto social, o tabu em torno da menstruação é tão difundido ao redor do mundo, que algumas mulheres acabam sendo discriminadas, através de práticas culturais conhecidas como o “Chaupadi”, no Nepal, que a pratica hindu de deixar as mulheres fora de casa enquanto elas estão menstruando. Além disso, em condições de extrema pobreza, mulheres podem ser segregadas do ambiente escolar por não possuírem produtos adequados de limpeza menstrual, assim como ficam mais vulneráveis a infecção em decorrência disso.

No Japão, desde 1947, é prevista na lei uma licença-menstruação. Há alguns anos, o parlamento italiano também essa ideia, e em um tribunal do México, desde 2017, foi decidido que as trabalhadoras possuiriam um dia de licença renumerada caso tivesse complicações durante a

menstruação. Algumas pessoas demonstram sintomas que podem ir muito além do que pode ser esperado em um ciclo menstrual comum.

Enquanto a síndrome pré-menstrual afeta de 75% a 80% da população que menstrua, o transtorno disfórico pré-menstrual afeta de 3% a 8%. Apesar de ambos apresentarem manifestações parecidas, a principal diferença é que no transtorno disfórico pré-menstrual, os sintomas e os prejuízos são muito mais graves. Uma semelhança é que os sintomas de ambos ficam mais evidentes entre 10 e 7 dias antes da menstruação e costuma piorar 3 dias antes dela acontecer.

O transtorno disfórico pré-menstrual envolve uma série de sintomas que se manifestam frequentemente e de forma mais intensa no período que antecede a menstruação, diminuindo no início ou no final dela. Esses sintomas geram muito sofrimento e podem causar vários prejuízos na vida da pessoa. Alguns sintomas mais comuns desse transtorno psicológico são a instabilidade emocional, a irritabilidade, a ansiedade, a tristeza, os pensamentos auto depreciativos, o cansaço, as dores, as sensações de inchaço, as alterações no sono ou no apetite. Também é comum que ocorram conflitos nos relacionamentos e a ideação suicida.

Esses conflitos podem ocorrer com um parceiro romântico, um amigo, parente, ou colega de trabalho. É importante que esse transtorno não seja confundido com situações nas quais existem problemas conjugais ou profissionais crônicos. Os conflitos motivados pelo transtorno geralmente ocorrerão no período pré-menstrual, e não em qualquer momento do mês.

Uma coisa desagradável que acontece com quem vive esse transtorno, e com mulheres de maneira geral, é ter as falas desqualificadas ou questionada por supostamente estar de TPM. Fazer esse tipo de insinuação é uma forma de intimidar, depreciar, ou encerrar uma discussão antes dela começar, então não seja mais uma pessoa que faz isso. Quem vivencia o transtorno disfórico pré-menstrual, costuma sentir os sintomas de uma forma tão intensa, que muitas vezes ela é confundida com outras condições, tais como transtorno bipolar, o transtorno depressivo maior ou algum transtorno de ansiedade.

Ainda existe muita dificuldade em alguém com esse transtorno obter um diagnostico apropriado, tanto por essa confusão que existe entre ele e os outros transtornos, quanto pela grande desinformação que ainda existe tanto na população em geral quanto entre os próprios profissionais da saúde.

Apesar desse transtorno ter sintomas tão desagradáveis, existem tratamentos para ele. Os tratamentos mais recomendáveis costumam envolver algumas práticas com o objetivo de aliviar os sintomas, mudanças de hábitos e medicamentos. Quanto as mudanças de hábitos, manter uma dieta equilibrada, exercitar-se regularmente são duas coisas que costumam ajudar. Quando considerado necessário por um médico, antidepressivos e anticoncepcionais podem ser usados, e em alguns casos, utiliza-se até o mesmo tratamento hormonal com estrogênio.

Ao longo prazo, pode ser muito útil registrar as informações do seu ciclo menstrual todos os meses. Anote o dia em que a sua menstruação terminou, e monitore quantos dias usualmente ela dura, se durante esse mês ela foi mais curta, dentro do esperado, ou maior que o normal e registre também a intensidade do fluxo. Com o passar do tempo, você vai entender melhor como seu ciclo funciona. Não deixe de anotar anormalidades que observar, como um sangramento anormal, ou dores inesperadas. Tudo isso pode te ajudar a manter-se em alerta para possíveis necessidades medicas.

Uma alimentação mais balanceada pode te ajudar a viver seu ciclo de uma forma mais balanceada. Alimentos rico em ômega 3, como peixes, nozes e chia, são capazes de ajudar a aliviar os sintomas

pré-menstruais. Se você tem um fluxo menstrual muito longo e intenso, pode ser benéfico possuir alimentos com bastante ferro, tais como feijões, carnes vermelhas, folhas escuras, beterraba, por exemplo.

Uma outra dica é utilizar o coletor menstrual. Feito de silicone ou látex, o coletor é uma alternativa segura que pode te ajudar a economizar muito nos gastos mensais com produtos de higiene menstrual. Em uma análise que levou em conta a opinião de 3.319 mulheres que participaram de 43 estudos, 70% delas preferiram o coletor para lidar com sangramento menstrual. Essa opção também evita o acumulo de plástico gerado pelos absorventes descartáveis.

Ainda existe muito desconhecimento quando o assunto é a menstruação ou o transtorno disfórico pré-menstrual. Milhares de mulheres ao redor do mundo sofrem grande prejuízos por conta dessa condição e passam anos sem receber o suporte ou tratamento necessário para lidar com isso. Apesar de ser mais um dos ciclos naturais que fazem parte da vida humana, a menstruação continua sendo um tabu. Por isso, é importante se falar mais ainda sobre esse assunto entre os nossos desconhecidos, desmistificar concepções equivocadas sobre o assunto e dar mais suporte as pessoas que enfrentam dificuldades ligadas ao ciclo menstrual.

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